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domingo, 18 de agosto de 2024


 Talvez

Quem sabeUm diaPor uma alamedaDo zoológicoEla também chegaráEla que tambémAmava os animaisEntrará sorridenteAssim como estáNa foto sobre a mesa
Ela é tão bonitaEla é tão bonitaQue na certaEles a ressuscitarãoO século trinta venceráO coração destroçado jáPelas mesquinharias
Agora vamos alcançarTudo o que nãoPodemos amar na vidaCom o estrelarDas noites inumeráveis
Ressuscita-meAindaQue mais não sejaPorque sou poetaE ansiava o futuro
Ressuscita-meLutandoContra as misériasDo cotidianoRessuscita-me por isso
Ressuscita-meQuero acabar de viverO que me cabeMinha vidaPara que não maisExistam amores servis
Ressuscita-mePara que ninguém maisTenha de sacrificar-sePor uma casaUm buraco
Ressuscita-mePara que a partir de hojeA partir de hojeA família se transforme
E o paiSeja pelo menosO UniversoE a mãeSeja no mínimoA TerraA TerraA Terra

Vladimir Maiakóviski

 CANÇÃO

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Cecília Meireles
Arte: Victor Adriel
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