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segunda-feira, 7 de março de 2022




A MINHA RUA É MEIO FIO!
Eu já fui menino de rua.
Na rua, eu já fui menino.
Menino de ruas, por serem muitas as ruas porque passei.
Os meus pés vêm das andanças do mundo.
Sem pai, sem pão e sem mãe, eu tive que me desdobrar com os pés,
Com a pá e com as mãos para me fazer alguém.
A rua é indiferente...
A rua dá o que tem: se frio, frio, se silêncio ou gritaria, ela é somente a
Rua dos à mercê da sorte.
Na minha rua atravessou o amor, por isso, eu só vivi marginal sem que
Me tornasse um.
A religião da rua é politeísta ou de Deus nenhum.
A minha poesia não é um fio inteiro, é meio fio de beira de estrada.
A minha poesia é marquise onde se passa a chuva.
Será da marquise que nasce o marquês? Sapuca aí!
As ruas de onde venho pariram um poeta.
Poema de Robério Jesus.


 

domingo, 6 de março de 2022




A MINHA POESIA É ÂNSIA!
A raíz da minha liberdade está presa a um cordão.
É umbilical a minha relação com o mundo.
Ser livre é o que se pode ter quando se tem um sonho.
Eu sonho...
O meu sonho eu comprei numa padaria...
Açucarado, com pedaços de doce de goiaba e tostadinho...
Para mim os sonhos são palatáveis,
Deglutíveis e degustáveis,
E se não forem assim, são detestáveis.
Eu tenho sonhos rarefeitos se raros e desfeitos.
Efeitos de sonhos com defeito e tudo.
A minha poesia é essa ânsia por ser livre.
Ânsia por ser eu mesmo.
Ânsia por ser.
A minha poesia é apenas ânsia.
Ancinho de quem pela vida vem limpando as folhas das palavras
levadas ao vento.
Poema de Robério Jesus.


 


 UM OLHAR, UMA EXPRESSÃO

Á Isaac vieira
Buscando sempre mais luz
Numa lagoa azul ou em Alagoa Grande
Vejo os pincéis nas festas ou nas feiras
Invocando fatos correntes ou lendas.
Uma dançarina aleijada, alijada
Na calçada amarga de sua tapera,
Também vejo um negro desatando os nós
Dos barcos de luxo atracados no cais.
Vejo na grandeza de suas telas
Sidney Pottier e Brigitte Bardot.
A lágrima da filha em Pelé negar o gol
E o sorriso de Cristo na cruz.
Escuto Beethoven desenrolando as notas
Vejo Tiradentes tão patriota,
Sinto a seca, a chuva e o lamaçal
Oriundas da profundeza do caos.
Nas veias o seu vocabulário plástico
Vozes de cores tão bem definidas.
Chama o olhar perdido de quem passa
Ao expor um pedinte enxotado do chão.
Aldo Lins da Paraíba.