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terça-feira, 7 de julho de 2020























HAVERÁ

André Breton


De onde vem esse ruído de fonte?
No entanto, a chave não ficou na porta
O que fazer para mover essas pedras enormes
Naquele dia eu vou tremer para perder um rastro
Em um dos bairros emaranhados de Lyon
Era um sopro de menta quando eu tinha vinte anos
Diante de mim o caminho hipnótico com uma mulher sombria e bem-aventurada
Por outro lado, os hábitos mudarão muito
A grande proibição será levantada
Uma libélula vai correr para me ouvir em 1950
Nesta encruzilhada
A vertigem é a coisa mais linda que eu já conheci
E todo 25 de maio, no final da tarde, o velho Delescluze
Com máscara de augusta desce em direção ao Château-d’Eau
Diria que eles embaralham algumas letras de espelhos na sombra.


terça-feira, 19 de maio de 2020

















Fumo

Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas;
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces plenas de carinhos!

Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu amor pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos...

Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"

segunda-feira, 18 de maio de 2020















Tenho na minha frente a fada de sal
cuja túnica recamada de cordeiros
desce até ao mar
cujo véu pregueado
de queda em queda ilumina toda a montanha.

Ela brilha ao sol como um lustro de água iridiscente
e os pequenos oleiros da noite serviram-se das suas
unhas onde a lua não se reflecte
para moldar o barro do serviço de café da beladona.

O tempo enrodilha-se miraculosamente detrás dos seus
sapatos de estrelas de neve
ao longo dum rasto perdido nas carícias
de dois arminhos.

Os perigos anteriores foram ricamente repartidos
e mal extintos os carvões no abrunheiro bravo das sebes
pela serpente coral que sem custo passa
por um delgado
filete de sangue seco
na lareira profunda
sempre e sempre esplendidamente negra
Esta lareira onde aprendi a ver
e sobre a qual dança sem cessar
o crepe das costas das primaveras
Aquele que é necessário lançar muito alto para dourar
a mulher em cujos cabelos encontro
o sabor que perdera
O crepe mágico o sinete voador

do amor que é nosso.


2.
O marquês de Sade retornou ao interior do vulcão
em erupção
de onde tinha vindo
com as suas belas mãos de novo franjadas
os seus olhos de rapariga
e à superfície esta satisfação dum salve-se quem puder
que não foi senão dele
mas do salão fosforescente das luzes viscerais
não cessou de lançar as ordens misteriosas
abrindo uma brecha na noite moral

É por esta brecha que eu vejo
as grandes sombras estralejantes a velha crosta escavada
desfazerem-se
para me deixarem amar-te
como o primeiro homem amou a primeira mulher
em liberdade inteira
essa liberdade
pela qual o fogo se fez homem
pela qual o divino marquês desafiou os séculos as suas
grandes árvores distraídas
os acrobatas sinistros
presos ao fio da Virgem do desejo.

sábado, 28 de março de 2020


QUERO SER TAMBOR

José Craveirinha


Tambor está velho de gritar Oh velho Deus dos homens deixa-me ser tambor corpo e alma só tambor gritando na noite quente dos trópicos.

Nem flor nascida no mato do desespero Nem rio correndo para o mar do desespero Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.

Nem nada!

Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.

Eu
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.

Oh velho Deus dos homens
eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até a consumação da grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor!


José Craveirinha: Poeta moçambicano.

Mafalala: Bairro da capital de Moçambique.
Zagaia: Lança curta de arremesso.

sexta-feira, 27 de março de 2020






















SER CRIANÇA EM NOITE DE NATAL

Tantas vezes a fadiga se desmancha
na mão que faz aurora e faz orvalho
e fez a vida fez o homem e faz verdade.

Tantas vezes a aurora se levanta
expondo as manhãs como crianças
nas peripécias sutis da claridade.

Tantas vezes a vida se acorda
e se joga a fazer a coisa feita
que para colhê-la ao homem bastaria

lançar o coração feito uma rede
a diluir entre nós essa parede
de indiferença erguida a cada dia.

Mas se os dias se vestem destes fatos
dada a colheita de frutos imediatos
tracemos novos rumos sem segredos

que a partir dum crepúsculo universal
igualitários na posse dos brinquedos
sejamos crianças em Noite de Natal.

Cyl Gallindo
Brasília, 1986

quinta-feira, 26 de março de 2020

















reconto-me



                                                                       reconto-me
                                        trago-me em nuvens e viro fumaça
                                          um coração, uns olhos, duas mãos
                                                     um pouco também de perna
                                                                        que me arrasta


                                                                         reconto-me
                                                            inumeráveis vezes
                                                                   reconto-me
                     como quem não se espera e não se afasta
                                 reconto-me como retranco-me
                      e largo minhas chaves abandonadas


                             depois de mim, recanto-me
           em restos de canção quase amputada
                              um pouco mais de som
                                          seria sinto-me
                               num rastro de solidão
                                     que não se apaga.

Eduardo Martins
In “Soma dos Inumeráveis”

quarta-feira, 25 de março de 2020

















Tens de acreditar que os ventos soprarão;
crer na grama nos dias de neve.
É por essa razão que os pássaros podem
cantar em seus dias mais escuros,
eles acreditam na volta da primavera!

Só na velhice a mesa fica repleta de ausências.
Chego ao fim, uma corda que aprende seu limite
após arrebentar-se em música.
Creio na cerração das manhãs.
Conforto-me em ser apenas homem.

Envelheci,
tenho muita infância pela frente.
 
Fabrício Carpinejar
Fonte: http://interludioemflor.blogspot.com/

terça-feira, 24 de março de 2020













Rajneesh Chandra Mohan Jain (रजनीश चन्द्र मोहन जैन) (Kuchwada, Índia11 de Dezembro de 1931 — PuneÍndia19 de Janeiro de 1990), nascido Chandra Mohan Jain, também conhecido como Acharya Rajneesh,[1] Bhagwan Shree Rajneesh e Osho, foi um guru indiano[2] líder do movimento Rajneesh. Durante sua vida, ele foi visto como um místico e um polêmico líder do novo movimento religioso. Nos anos 1960, ele viajou pela Índia como orador público e foi um crítico do socialismo, argumentando que a Índia não estava pronta para este sistema e que o socialismo, o comunismo e o anarquismo só poderiam evoluir quando o capitalismo atingisse sua maturidade. Rajneesh também criticou Mahatma Gandhi e a ortodoxia religiosa hindu.[3][4] Ele enfatizou a importância da meditação, atenção plena, amor, celebração, coragem, criatividade e humor - qualidades que ele via como sendo suprimidas pela adesão a sistemas de crença estáticos, pela tradição religiosa e pela socialização. Ao defender uma atitude mais aberta à sexualidade humana,[4] ele causou controvérsia na Índia durante o final dos anos 1960 e ficou conhecido como "o guru do sexo".[5][6]
Em 1970, Rajneesh passou um tempo em Mumbai iniciando seguidores conhecidos como "neo-sannyasins". Durante este período, ele expandiu seus ensinamentos espirituais e comentou extensivamente em discursos sobre os escritos de tradições religiosas, místicas e filosóficas de todo o mundo. Em 1974, Rajneesh se mudou para Pune, onde um ashram foi estabelecido e uma variedade de terapias (que incorporavam pela primeira vez métodos desenvolvidos pelo Movimento do Potencial Humano) foi oferecida a um crescente número de seguidores ocidentais.[7][8] No final da década de 1970, a tensão entre o governo do Partido do Povo Indiano de Morarji Desai e o movimento Rajneesh levou a uma contenção do desenvolvimento do ashram e a uma dívida estimada em 5 milhões de dólares.[9]
Em 1981, os esforços do movimento concentraram-se em atividades nos Estados Unidos e Rajneesh mudou-se para uma instalação conhecida como Rajneeshpuram no Condado de Wasco, no Oregon. Quase imediatamente o movimento entrou em conflito com os moradores do condado e o governo do estado, sendo que uma sucessão de batalhas jurídicas envolvendo a construção do ashram e o desenvolvimento contínuo restringiram seu sucesso no local. Em 1985, após uma série de crimes graves cometidos pelos seus seguidores, incluindo um ataque de intoxicação alimentar em massa com bactérias Salmonella e um plano de assassinato abortado contra o procurador Charles H. Turner, Rajneesh alegou que a sua secretária pessoal, Ma Anand Sheela, e seguidores próximos, eram os verdadeiros responsáveis. Após um acordo judicial, ele foi deportado dos Estados Unidos.[10][11][12]
Após sua deportação, 21 países negaram sua entrada.[13] Ele finalmente retornou à Índia e reviveu o ashram de Pune, onde morreu em 1990. O ashram de Rajneesh, agora conhecido como OSHO International Meditation Resort,[14] e toda propriedade intelectual associada, é administrado pela Osho International Foundation (antiga Rajneesh International Foundation) registrada em Zurique, na Suíça.[15][16] Os ensinamentos de Rajneesh tiveram um impacto notável no pensamento da Nova Era ocidental[17][18] e sua popularidade aumentou acentuadamente desde sua morte.[19]

segunda-feira, 23 de março de 2020















No fim dos anos 50, um professor de filosofia chamava atenção na Universidade de Jabalpur, na Índia. As aulas do barbudo de gorro e óculos escuros, sempre lotadas, eram as únicas em que homens e mulheres podiam sentar-se juntos e debater livremente – apenas mais uma das controvérsias do homem que se definiu como “um místico espiritualmente incorreto”. Chandra Mohan Jain, ou simplesmente Osho, causava polêmica principalmente com seus ataques às religiões tradicionais. Pregando a busca da liberdade através da meditação, ele conquistou uma geração de pessoas que buscava a espiritualidade sem ter de se comprometer com antigas crenças. Mas o movimento que ele criou assumiu todos os contornos de uma nova religião, como a busca pelo divino, seguidores, rituais, doutrinas e até mesmo escrituras – mais de 600 livros que são best sellers internacionais, traduzidos em 55 idiomas.
“Não existe homem mais cabeça-dura que o papa, o Polaco”, disse sobre João Paulo 2º durante uma entrevista de 1985, publicada em 6 volumes no livro O Último Testamento. O Polaco, como sempre chamava o então chefe da Igreja Católica, era um dos alvos favoritos de Osho: “O mundo está superpovoado e ele continua pregando contra o controle de natalidade, a pílula e o aborto”. Seus livros, editados a partir de palestras e entrevistas, oferecem novas interpretações de livros sagrados, líderes religiosos e sistemas políticos. O objetivo era discutir a importância da liberdade, do autoconhecimento e da relação do homem com ele mesmo e com o planeta – a busca por um novo homem.
“A abordagem de Osho traz elementos religiosos, especialmente no sentido de que o ser humano tem a capacidade de se iluminar e pode desenvolver seu potencial inerente”, explica o professor de teologia da PUC-SP Frank Usarski. Esse potencial seria desenvolvido pela meditação, mas não com os métodos desenvolvidos há séculos pelos orientais, que segundo ele não surtem efeito no homem moderno e num mundo extremamente consumista e dinâmico. Seria preciso algo mais agressivo para nos tirar do estado “vicioso” em que estamos. Para isso, Osho desenvolveu técnicas, como a meditação dinâmica, e reformulou outras. “O objetivo é a libertação do ser humano por práticas diversas das quais Osho se apropriou, de tradições religiosas como o zen-budismo, o tantrismo e o sufismo”, diz Usarski.
Segundo a autobiografia de Osho, sua trajetória espiritual começou de maneira semelhante à de antigos profetas, aos 21 anos, com uma revelação. Ele conta que numa noite de março de 1953 foi acordado por uma energia forte em seu quarto, correu para o jardim onde meditava e viu tudo iluminado. Ficou 3 horas em estado contemplativo – “chapadão”, como definiu – e 7 dias sem falar. “Dias se passavam e eu não sentia fome, não sentia sede. Desde aquela noite, nunca mais estive em meu corpo.” A luz trouxe a percepção de que não há nada a ser obtido, pois o ser humano já é perfeito.

domingo, 22 de março de 2020





















Não Virá Nenhum "Salvador"
Há pessoas que esperam por um messias, um salvador, ou algum tipo de "guia" para que haja uma mudança. Outras esperam por eventos exteriores de magnitude elevada. Em ambos os casos, o que existe é apenas uma tola fantasia mental. Não existe um salvador senão aquele que vive em cada ser humano deste planeta. Somente nós podemos mudar o nosso mundo, assim como somente você pode mudar a si próprio.
O que vai mudar se o seu messias retornar amanhã?
Você começará a amar a todas as pessoas do mundo? Você começará a amar aquelas que não são de sua mesma filosofia/religião? Você será feliz instantaneamente? Você deixará de julgar as ações de terceiros? Você aceitará as diferenças?
O mundo não vai se tornar magicamente belo, pacífico e cheio de felicidade. Nada pode mudar o mundo a não ser os seres que nele habitam. E ninguém pode fazer por nós aquilo que é de nossa responsabilidade. Ninguém pode nos fazer amar uns aos outros, ninguém pode nos fazer deixar de nos importarmos com as diferenças, ninguém pode nos fazer felizes. Apenas nós temos esse poder.
As pessoas esperam por um salvador para acreditar numa mudança, porque pensam que não são capazes de mudar a si mesmas sem uma condição exterior. Inventam desculpas para não saírem da zona de conforto de suas fugas mentais.
Mas se um "salvador" vier, nada irá mudar. As contas ainda precisarão ser pagas; você ainda sentirá dores físicas; você ainda precisará ir ao banheiro; você ainda pagará impostos; você ainda precisará trabalhar; você ainda terá problemas conjugais; você ainda terá de conviver com as mesmas pessoas de outrora. Nada irá mudar.
A mudança só pode acontecer individualmente no coração de cada um. Cabe a você aprender a amar outras pessoas, cabe a você aprender a aceitá-las como são, cabe a você encontrar a paz interior. Nada disso depende de outra pessoa senão de você.
Se você quer viver em mundo melhor, comece sendo uma pessoa melhor. Não espere por ninguém e por nada. Não espere por um mestre, um salvador ou uma nova era.
Faça acontecer agora!
Uma observação importante, não tomem esse post como um ataque a suas crenças. Não estou propondo que abandonem nada. Tentem absorver a critica feita e aplica-la dentro do contexto da sua religião/crença/credo.
"Aqui está uma pergunta, uma pergunta fundamental:
Seria a vida uma tortura?
O fato é que ela é como é; e o homem tem vivido nesta tortura séculos e séculos, desde a história antiga até os dias atuais, em agonia, em desespero, na tristeza; e ele não encontra uma maneira de sair disso. Portanto, ele inventa deuses, igrejas, todos os rituais, e todos esse absurdos, ou ele escapa de maneiras diferentes.
O que estamos tentando fazer, durante todas essas discussões aqui, é ver se não podemos trazer radicalmente uma transformação da mente, não aceitar as coisas como elas são, nem revoltar-se contra elas. Se revoltar não ajuda em nada. Você deve buscar entender isso, examinar essa questão, dar o seu coração e sua mente, com tudo o que você tem, para descobrir uma maneira de viver de uma forma diferente. Isso depende de você, e não de outra pessoa, porque nisso não há nenhum professor, nenhum aluno; não há um líder; não há guru; não há nenhum mestre, nenhum Salvador. Você mesmo é o professor e o aluno; Você é o mestre; você é o guru; você é o líder; VOCÊ É TUDO.
E entender isso é transformar o que é.

Jiddu Krishnamurti

sábado, 21 de março de 2020


















E ASSIM EM NÍNIVE

"Sim! Sou um poeta e sobre minha tumba
Donzelas hão de espalhar pétalas de rosas
E os homens, mirto, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.

"Veja! não cabe a mim
Nem a ti objetar,
Pois o costume é antigo
E aqui em Nínive já observei
Mais de um cantor passar e ir habitar
O horto sombrio onde ninguém perturba
Seu sono ou canto.
E mais de um cantou suas canções
Com mais arte e mais alma do que eu;
E mais de um agora sobrepassa
Com seu laurel de flores
Minha beleza combalida pelas ondas,
Mas eu sou poeta e sobre minha tumba
Todos os homens hão de espalhar pétalas de rosas
Antes que a noite mate a luz
Com sua espada azul.

"Não é, Ruaana, que eu soe mais alto
Ou mais doce que os outros. É que eu
Sou um Poeta, e bebo vida
Como os homens menores bebem vinho."

Ezra Pound
(Tradução de Augusto de Campos)

sexta-feira, 20 de março de 2020















MADRIGAIS PRIVADOS

Deste meu nome a uma árvore? Não é pouca coisa;
embora não me resigne a ficar apenas sombra, ou tronco,
abandonado num subúrbio. Eu o teu
dei a um rio, a um longo incêndio, à minha sorte
cruel, à confiança
sobre-humana com que falaste ao sapo
que saiu do esgoto, sem horror ou pena
ou exaltação, ao alento daquele poderoso
e suave lábio teu que consegue,
nomeando, criar: sapo flores relva rocha —
carvalho pronto a desfraldar-se sobre nós
quando a chuva dispersa o pólen das carnosas
pétalas de trevo e a chama se levanta.

Eugênio Montale

Trad.: Geraldo H. Cavalcanti

quinta-feira, 19 de março de 2020


SEM TI

E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,
sem álamos,
sem luas.

Só nas minhas mãos
ouço a música das tuas.

Eugénio de Andrade 
Fonte: http://interludioemflor.blogspot.com/

quarta-feira, 18 de março de 2020

















De rosto em rosto a ti mesmo procuras
e só encontras a noite por onde entraste
finalmente nu - a loucura acesa e fria
iluminando o nada que tanto procuraste.

Eugénio de Andrade

terça-feira, 17 de março de 2020















URGENTEMENTE


É urgente o amor 
É urgente um barco no mar 

É urgente destruir certas palavras, 
ódio, solidão e crueldade, 
alguns lamentos, muitas espadas. 

É urgente inventar alegria, 
multiplicar os beijos, as searas, 
é urgente descobrir rosas e rios 
e manhãs claras. 

Cai o silêncio nos ombros e a luz 
impura, até doer. 
É urgente o amor, é urgente 
permanecer. 

Eugênio de Andrade, in "Até Amanhã"