"Se a gente cresce com os golpes duros da vida, também podemos crescer com os toques suaves na alma." - Cora Coralina
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sábado, 29 de abril de 2017
Lições Tardias - Alberto da Cunha Melo
Não devemos aprender a esperar.
Devemos, sim,
esquecer as coisas esperadas.
Ainda que nos digam:
"espere-me, à tal hora, em tal jardim",
o jardim nos deve bastar.
Que a chegada daquilo
que nos fez esperar
seja algo normal naquele mundo,
como a morte de uma borboleta
ou a fuga de um lagarto nas pedras.
Se nada chega,
se ninguém aparece,
não notaremos a sua falta.
sexta-feira, 28 de abril de 2017
Um cartão de visitas - Alberto da Cunha Melo
Moro tão longe, que as serpentes
morrem no meio do caminho,
Moro bem longe, quem me alcança
Para sempre me alcançará.
Não há estradas coletivas
com seus vetores, suas setas
indicando o lugar perdido
onde meu sonho se instalou.
Há tão somente o mesmo túnel
de brasas que antes percorri,
e que à medida que avançava
foi-se fechando atrás de mim.
É preciso ser companheiro
do Tempo e mergulhar na Terra,
e segurar a minha mão
e não ter medo de perder.
Nada será fácil: as escadas
não serão o fim da viagem;
mas darão o duro direito
de, subindo-as, permanecermos.
quinta-feira, 27 de abril de 2017
CASA VAZIA
Poema nenhum, nunca mais,
será um acontecimento:
escrevemos cada vez mais
para um mundo cada vez menos,
será um acontecimento:
escrevemos cada vez mais
para um mundo cada vez menos,
para esse público dos ermos
composto apenas de nós mesmos,
composto apenas de nós mesmos,
uns joões batistas a pregar
para as dobras de suas túnicas
seu deserto particular,
para as dobras de suas túnicas
seu deserto particular,
ou cães latindo, noite e dia,
dentro de uma casa vazia.
dentro de uma casa vazia.
Alberto da Cunha Melo
terça-feira, 25 de abril de 2017
Relógio de Ponto - Alberto da Cunha Melo
Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim os jogos,
a poesia, todos os pássaros
mais do que tudo: todo o amor.
De quando em quando faltaremos
a algum compromisso na Terra,
e atravessaremos os córregos
cheios de areia, após as chuvas.
Se alguma súbita alegria
retardar o nosso regresso,
um inesperado companheiro
marcará o nosso cartão.
Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim as faixas
da vitória, a própria vitória,
mais do que tudo: o próprio Céu.
De quando em quando faltaremos
a algum compromisso na Terra,
e lavaremos as pupilas
cegas com o verniz das estrelas.
quinta-feira, 20 de abril de 2017
terça-feira, 18 de abril de 2017
segunda-feira, 17 de abril de 2017
domingo, 16 de abril de 2017
Para Antônio Carlos Oliveira (Tatá)
Você se lembra, amigo?
Quando, como Apolos,
Desbravávamos
Dimensões inimagináveis?
Quando não tínhamos medo
Do desconhecido
E que o inusitado
Era o nosso cotidiano?
Você se lembra, amigo?
Quando a matéria
E os nossos próprios corpos
Eram meros veículos
Que nos levavam
A viagens totalmente insólitas?
Onde eu me via
Candidamente em você
E você em mim?
Você se lembra, amigo?...
Em que curva da estrada
Eu te perdi
E você a mim?
Carlos Maia
31/12/16
segunda-feira, 10 de abril de 2017
Chama Brisa
Lampeja relâmpago
Centelha faísca
Brisa inflama
Chama a chama
Arde a ferida
Sua a dor
Apaga, incandesce
Movimento, calor
Pranteia, abriga
Dissolve-nos
Ilumina a cor
Brisa vem, suaviza
Move a chama
Ventila em-canto
Flameja cura
Dança a vida
Jordanna Mendonça
Inspiração recebida em 30/08/2016. Dia da notícia do início
do tratamento de Janine.
terça-feira, 4 de abril de 2017
Voltei para rever
A praça Maciel Pinheiro
Sentir o fedor
Das esquinas sujas
Da minha cidade
Dos paradoxos
Da minha cidade
Cidade que está
Entranhada nos
Meus ossos.
Cidade que me extasia
E causa nojo
Ao mesmo tempo
Cidade que me alucina,
Me prende e me fascina
Cidade que me atordoa
Cidade em que eu fico à toa.
Cidade que me cansa
E me renova
Cidade com a qual
Irei até a cova.
Cidade que me mata
E me acorda.
Recife,
Minha eterna
Veneza Brasileira,
Irei contigo
Até o fim!
Carlos Maia
03/04/17
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