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terça-feira, 30 de setembro de 2014

















SONETO DE TORTURA E DESENCANTO

Não sei que angústia me incomoda o peito
que não posso estar firme nem parado.
Com o pensamento sempre desvairado,
falta-me calma até quando me deito.

A noite vago as ruas, odeio o leito,
não durmo, não descanso, não me enfado,
não fujo, não me mato, e o rosto irado
até de rir perdeu a forma e o jeito.

Por isso não te admire, amiga minha,
que ternura hoje em dia me careça
na voz, que tantas vezes te acarinha.

Mas é que sofro de sentir diverso:
e onde repousarei minha cabeça,
se a dor humana não couber num verso?


Ângelo Monteiro

sábado, 27 de setembro de 2014


























Noite mágica

Abri meu contêiner de Pandora
Vi a liberdade do caos
E busquei equilíbrio na tormenta

Caminhei com passos curtos
Pelas ruas agitadas
Em noite de tempestade

Observei o corre-corre das pessoas
Em busca de abrigo
Enquanto meu corpo abrigava o dilúvio

Turbilhão de vozes e olhares
Questionando minha sanidade
E o temporal caminhou comigo

A pneumonia veio logo ao meu encontro
Preço de uma noite mágica
Valeu a pena?
A tempestade grita que sim
Eu também

Tadeu Rocha

quinta-feira, 25 de setembro de 2014













A vida passando por mim
Em lapsos de 6, 3 ou 9 meses
De internamento.
Não vi o mamoeiro
Da casa do meu filho crescer;
De repente já estava
Com mais de 2 metros de altura.
Viadutos, lojas que fecharam
Outras que abriram
E eu alheio a tudo isso.
Confinado.
Se não, não parava.
Quantos abraços eu deixei de dar
À minha netinha?
Quantos sorrisos deixei de ver
Do meu filho Biel?
Quantas conversas eu deixei de ter
Com meu filho Lucas?
Mas se eu estivesse no processo
Também não teria curtido nada disso.
A intervenção se fez necessária,
Para que eu pudesse retomar das drogas
As rédeas da minha vida.
Muito embora eu saiba que absolutamente
Eu não tenho o controle de nada.
Eu e minhas impotências
Eu e minhas tendências suicidas
Eu e minha paixão pelo abismo,
Pela vertigem, pelo delírio,
Pela contra-cultura.
Eu, qual Ginsberg,
Uivando pelas noites do Recife.
Eu, desesperadamente só.
Eu, que até hoje
Não sei quem sou.
Eu, que busco uma explicação.
Eu, finalmente me aceitando.
Eu e meus paradoxos que não têm fim.
Eu e todas as minhas vidas anteriores.
Eu, sem explicação.
Eu, todos e nenhum.
Buscando, buscando, buscando...
Um sentido...
Uma luz no fim do túnel,
Que não seja um trem
Vindo em sentido contrário!

Carlos Maia
24/09/14