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sábado, 9 de novembro de 2013

























Na falta de coração,
dê-me um comprimido pra dor
ou a mão.

Pague uma cerveja,
esqueça um livro comigo,
não diga que é meu amigo.

Na falta de solução,
dê-me uma passagem e um mapa,
uma dose dupla de vodka barata
e o último trago deste cigarro.

Você não fuma. Nem eu.
Você não enxerga nem eu,
hoje, que é tarde, mas já tudo
é breu.

Na falta de um coração,
dê-me um cartão
do escritório de seu novo emprego,
uma pista dos olhos de seu novo apego,
me deixe saber a quem cabe
o choro que você não me autorizou
para o dia,
inevitável dia,
em que você vai embora...

Sem deixar na cidade
nem traço de si,
sem olhar com maldade
o sangue pisado,
sem pensar nos verbos
ou conjugá-los passados.

Na falta de tudo,
me deixe um argumento como escudo
e a lembrança entre viva e embaçada
do dissenso de perder
o jogo com a carta marcada

Ou pelo menos,
me deixe um esquecimento:
no quarto, uma meia,
um botão de sua camisa,
lápis grafite,
papel rabiscado,
o olhar perdido...
tua vida.



Luciana Amâncio

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