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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Vento - Carlos Gurgel



















o que me acorda

no meio da noite

são as asas do vento

que roubam do meu armário

as fotos de onde morei

as estrelas que dormiam pelo chão

e os dilúvios que passavam sobre os seus caminhos



e era como uma rua

que não via seus vultos nem rosas

passeando pela calçada

assim como quem vai a praça

e não lembra de olhar os olhos das crianças



e os seus amigos

sem perfumes e mulheres

já não guardam os seus quintais

sombras de cadeiras

varal com roupa dos vizinhos

e o adormecer das cobras e os seus pés errantes



e a brisa que vem do mar

acumula pelos tapumes e telhas

sua memória

ri do rio e suas métricas

como um lagarto que voa sem sua sombra e paz



e o vento

que da janela de um trem

invade lençois e colchões

cemitérios e cisternas

pede um pouco d’água

como promessa de quem já se esqueceu de sonhar.

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