A OSTRA
A ostra, do tamanho de um seixo mediano, tem uma aparência
mais rugosa, uma cor menos uniforme, brilhantemente esbranquiçada. É um mundo
recalcitrantemente fechado. Entretanto, pode-se abri-lo: é preciso então
agarrá-la com um pano de prato, usar de uma faca pouco cortante, denteada,
fazer várias tentativas. Os dedos curiosos ficam trinchados, as unhas se
quebram: é um trabalho grosseiro.
Os golpes que lhe são desferidos marcam de
círculos brancos seu invólucro, como halos.
No interior encontra-se todo um mundo, de comer e de beber: sob um
"firmamento" (propriamente falando) de madrepérola, os céus de cima
se encurvam sobre os céus de baixo, para formar nada mais que um charco, um
sachê viscoso e verdejante, que flui e reflui para a vista e o olfato, com franjas
de renda negra nas bordas.
Por vezes mui raro uma fórmula peroliza em sua goela nácar, e alguém encontra
logo com que se adornar.
Francis Ponge
Trad: Ignácio Antonio Neis e Michel Peterson
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