CHUVA
A chuva, no pátio em que a olho cair, desce em andamentos
muito diversos. No centro, é uma fina cortina (ou rede) descontínua, uma queda
implacável mas relativamente lenta de gotas provavelmente bastante leves, uma
precipitação sempiterna sem vigor, uma fração intensa do meteoro puro. A pouca
distância das paredes da direita e da esquerda caem com mais ruído gotas mais
pesadas, individuadas. Aqui parecem do tamanho de um grão de trigo, lá de uma
ervilha, adiante quase de uma bola de gude. Sobre o rebordo, sobre o parapeito
da janela a chuva corre horizontalmente ao passo que na face inferior dos
mesmos obstáculos ela se suspende em balas convexas. Seguindo toda a superfície
de um pequeno teto de zinco abarcado pelo olhar, ela corre em camada muito
fina, ondeada por causa de correntes muito variadas devido a imperceptíveis
ondulações e bossas da cobertura. Da calha contígua onde escoa com a contenção
de um riacho fundo sem grande declive, cai de repente em um filete
perfeitamente vertical, grosseiramente entrançado, até o solo, onde se rompe e
espirra em agulhetas brilhantes.
Cada uma de suas formas tem um andamento particular; a cada uma corresponde um ruído particular. O todo vive com intensidade, como um mecanismo complicado, tão preciso quanto casual, como uma relojoaria cuja mola é o peso de uma dada massa de vapor em precipitação.
O repique no solo dos filetes verticais, o gluglu das calhas, as minúsculas batidas de gongo se multiplicam e ressoam ao mesmo tempo em um concerto sem monotonia, não sem delicadeza.
Quando a mola se distende, certas engrenagens por algum tempo continuam a funcionar, cada vez mais lentamente, depois toda a maquinaria pára. Então, se o sol reaparece, tudo logo se desfaz, o brilhante aparelho evapora: choveu.
Cada uma de suas formas tem um andamento particular; a cada uma corresponde um ruído particular. O todo vive com intensidade, como um mecanismo complicado, tão preciso quanto casual, como uma relojoaria cuja mola é o peso de uma dada massa de vapor em precipitação.
O repique no solo dos filetes verticais, o gluglu das calhas, as minúsculas batidas de gongo se multiplicam e ressoam ao mesmo tempo em um concerto sem monotonia, não sem delicadeza.
Quando a mola se distende, certas engrenagens por algum tempo continuam a funcionar, cada vez mais lentamente, depois toda a maquinaria pára. Então, se o sol reaparece, tudo logo se desfaz, o brilhante aparelho evapora: choveu.
Francis Ponge
Trad.: Júlio Castañon Guimarães
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