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domingo, 27 de março de 2016















Certa vez, Fernando Pessoa
perguntou ao Sá Carneiro:
“De que cor será o sentir?”
E eu respondi assim:

De que cor ficou o Sá Carneiro
com tamanha interrogação?
Decerto que o poeta traz no bolso
todas as cores.

Mas definir a cor do sentir
deve ser tão duro
quanto o próprio silêncio
que antecedeu a resposta
(se houve resposta)
imagino a pessoa do Sá
na pessoa do Pessoa.

De que cor o Pessoa pensou
que o Sá iria pensar?
Pergunto porque já estou pálido
de virar noites à dentro
espantando moscas e mosquitos.

Ontem por sinal
             nadei

                              nadei

                                              e nada.

“Vou terminar morrendo afogado dentro dos fatos”

Alguém dos Aflitos saberia?
Já disseram por aí
que na lata do poeta
“Tudo nada cabe”.
E a mim só me cabe
chutar a lata.

Pois é dentro da lata que encontramos
tudo aquilo que não é lata.

Quanto à cor do sentir
cada um que sinta por si.

Miró
em “Ilusão de Ética”

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