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sexta-feira, 25 de março de 2016















QUARTO DE PENSÃO, NA RUA NUNES MACHADO

Naquelas paredes, minhas palavras ficaram coladas.
Se você colocar seus ouvidos nelas,
Ainda escutará ecos dos passos na escada de madeira.
Ecos do deslizar de mãos nos corrimões,
Ecos dos chiados de ratos,
Do giz no quadro verde.

Duas ou três vezes, insone na noite,
Eu descia a escada e olhava a rua.
Tudo apagado.
Depois das aulas, a rua era esquisita, nua, intrigante.
Rua tão solitária quanto eu.
Eu ficava, então, a digerir sombras e a mim mesmo.

A frieza era de espantar na madrugada.

Os fantasmas, nessas horas, davam gargalhadas
Que me assustavam;
Mas, em algumas noites, ficavam calados,
Soturnos, como corujas,
Respeitando a minha solidão.

Joca de Oliveira
em "para além do peito TATUADO"

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