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quarta-feira, 11 de novembro de 2015




















Onde estão agora Rilke e Akhmatova e Neruda?
Onde estão agora Ovídio
e Auden
e Robert Lowell?
Onde estão todos esses a quem dei os meus lábios,
os que viviam com o meu coração?
Onde estão,
para que servem neste dia escuro;
onde está Lorca, onde está Cernuda,
onde está Ingeborg Bachmann hoje que meu pai morreu
e eu fujo dos seus olhos – leio Bécquer,
leio San Juan – quero esconder os seus olhos.
como o desertor
que enterra o seu uniforme junto a um rio.
Que pode fazer Pessoa contra o gelo;
para que serve Pasternak
quando a dor instala a sua colmeia?
Os poemas não sabem parar os relógios:
não existem pontes que façam menos fundo um abismo.
Procuro Paul Valéry,
procuro Huidobro.
Olho para trás e vejo a serpente
Do caminho já percorrido
Procuro palavras que me ponham cego (que me ceguem),
Procuro palavras que me deem a minha vida
De que serve Virgílio contra a flor cortada
ou a luz das velas
ou o peso do meu pai sobre o ombro
como um abutre sobre rês caída.
O mármore não merece a morte de Laocoonte.
Abro um livro. É muito belo. De que me serve agora?

Benjamin Prado
"Laocoonte e seus filhos em luta com a serpente"

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