NÃO SE PODE FALAR DO DESERTO...
(fragmento)
Não se pode falar do deserto como de uma
paisagem, pois ele é, apesar de sua variedade,
ausência de paisagem.
Essa ausência concede a ele sua realidade.
Não se pode falar do deserto como de um
lugar; pois ele é, também, um não lugar; o não-
lugar de um lugar ou o lugar de um não-lugar.
Não se pode pretender que o deserto seja uma
distância, porque ele é, ao mesmo tempo, real
distância e não-distância absoluta por causa
de sua ausência de marcas. Ele tem, como
limites, os quatro horizontes, sendo o que os
liga e os separa. Ele é sua própria separação
onde ele se torna lugar aberto; abertura do
lugar.
Não se pode pretender que o deserto seja o
vazio, o nada. Não se pode, tampouco,
pretender que ele seja o término, uma vez que
ele é, igualmente, o começo.
Edmond Jabès
(tradução: Caio Meira)
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