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domingo, 13 de dezembro de 2015




















NOITES DE CONCRETO OU
PALAVRAS ESTRANGEIRAS
(fragmento)

Eu me curvo sobre a palavra de finas escamas
No mar a palavra atordoa
Ela foge por entre os dedos do curioso. Ela vigia o anzol
O pescador é o intruso o monstro
Levanto meus olhos para a palavra de belas plumas
No espaço ela está por um fio por um espanto
Ela vigia o caçador a tempestade O fuzil como a chuva tem pupilas que matam
Capturo a palavra desprevenida
Ela tem um porto de ilha
pernas secretas de areia
um torso de vela
Tem olhos de gaivota
e grandes mãos vazias
onde se refugia o mundo
Segui a palavra por tantos caminhos
Ela se deteve uma vez para me sorrir
Ela não tinha cabeça
nem nuca
Não tinha braços
nem pernas
e minha boca surpresa
modulava seu nome

Edmond Jabès

(tradução: Mário Laranjeira)

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