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quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

















ABDICAÇÃO

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho. 
                   Eu sou um rei
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços. 

Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mão viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa — eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços 

Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria. 

Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.

Fernando Pessoa

(Cancioneiro).

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