Beijo no olho
O mundo inteiro que tu vês
atrás das pálpebras que beijei
é isso mesmo, menina:
um vale raso só de tédio
e um poço fundo de mistérios,
uma ave é abatida em pleno vôo
e nasce uma flor no cemitério,
um riso estala na manhã,
com o cheiro morno de café moído,
e um pranto escorre no ocaso,
como visgo mofado nas paredes.
Aqui arde o fogo da paixão sem nome
e lá estala o gelo da indiferença vã,
um sorriso de bebê paira no espelho
e um punho hostil te fere a face.
atrás das pálpebras que beijei
é isso mesmo, menina:
um vale raso só de tédio
e um poço fundo de mistérios,
uma ave é abatida em pleno vôo
e nasce uma flor no cemitério,
um riso estala na manhã,
com o cheiro morno de café moído,
e um pranto escorre no ocaso,
como visgo mofado nas paredes.
Aqui arde o fogo da paixão sem nome
e lá estala o gelo da indiferença vã,
um sorriso de bebê paira no espelho
e um punho hostil te fere a face.
O mundo em pedaços que tu vês
dentro das pálpebras que fechas
é assim mesmo, mocinha:
uma bomba explode no jardim
e o ser amado se despe no chuveiro;
um cálculo duro te macera o rim
e a brisa da noite, com cheiro de jasmim;
colhes um beijo sem dono na rua
e no quarto destilas o fel desse pavor;
pulas um frevo de celebração
e choras um cadáver em cantochão;
chove forte nas palmas dos oásis
e o sol te invade as praias do deserto;
mordes o pão com enxofre da desgraça
e te embriagas com o vinho da consolação.
dentro das pálpebras que fechas
é assim mesmo, mocinha:
uma bomba explode no jardim
e o ser amado se despe no chuveiro;
um cálculo duro te macera o rim
e a brisa da noite, com cheiro de jasmim;
colhes um beijo sem dono na rua
e no quarto destilas o fel desse pavor;
pulas um frevo de celebração
e choras um cadáver em cantochão;
chove forte nas palmas dos oásis
e o sol te invade as praias do deserto;
mordes o pão com enxofre da desgraça
e te embriagas com o vinho da consolação.
O mundo incerto que tu vês
diante das pálpebras que abrirás
é nosso mesmo, mulher:
ei-lo, o tempo esparramado no solo
e o espaço, imenso como um grão
- muita companhia , toda a solidão.
Pedes um pouco de guerra
na paz de uma canção;
entregas um gole a quem te pede água,
mas negas um naco a quem te pede um pão.
Esse mundo sem porteira ou rumo,
um saco de merda, um frasco de luz,
é um mundo velho, novo e sem segredo,
parece uma peneira, cabe num pandeiro
e bate ao ritmo de teu coração.
diante das pálpebras que abrirás
é nosso mesmo, mulher:
ei-lo, o tempo esparramado no solo
e o espaço, imenso como um grão
- muita companhia , toda a solidão.
Pedes um pouco de guerra
na paz de uma canção;
entregas um gole a quem te pede água,
mas negas um naco a quem te pede um pão.
Esse mundo sem porteira ou rumo,
um saco de merda, um frasco de luz,
é um mundo velho, novo e sem segredo,
parece uma peneira, cabe num pandeiro
e bate ao ritmo de teu coração.
José Nêumanne Pinto
Nenhum comentário:
Postar um comentário