Ode ao pó
Açúcar é assim:
brilho vermelho na melancia,
mancha verde na uva-itália
e na maçã verde,
mas todo branco quando só
e branco inteiro enquanto pó
(força de fortes
droga de débeis).
Gelado e molenga
no sorvete de açaí;
a cara-metade do caramelo,
embebido em compressas,
tostado em fogo lento.
Há açúcar na polpa
e açúcar na papa.
Há açúcar do engenho,
de forno e fornalha.
brilho vermelho na melancia,
mancha verde na uva-itália
e na maçã verde,
mas todo branco quando só
e branco inteiro enquanto pó
(força de fortes
droga de débeis).
Gelado e molenga
no sorvete de açaí;
a cara-metade do caramelo,
embebido em compressas,
tostado em fogo lento.
Há açúcar na polpa
e açúcar na papa.
Há açúcar do engenho,
de forno e fornalha.
Açúcar é assado:
o suor do camponês pulverizado,
sacos de cristal na prateleira,
valendo ouro no mercado,
virando merda no organismo,
bela merda,
doce merda,
...merda...
o suor do camponês pulverizado,
sacos de cristal na prateleira,
valendo ouro no mercado,
virando merda no organismo,
bela merda,
doce merda,
...merda...
Açúcar é assombro:
à sombra do Hades,
as águas do Ganges;
panacéia do avesso
e dor das paixões
e cor das paixões
se esparramando, líquida,
na esclerose de minhas veias,
minhas veias velhas.
Veneno e garapa,
a mó, o mel, o mal,
a morte feito gosto
invade meu sonho,
me habita o pesadelo
num aviso de sol morno:
o passo lerdo,
o pinto casto,
o cuco morto.
E dá sinais de olho posto:
a vida breve,
a arte curta,
o gole brusco,
a cinza fria,
um dó de peito
e o pó sem fundo,
ao qual haveremos
de tornar
- todos.
à sombra do Hades,
as águas do Ganges;
panacéia do avesso
e dor das paixões
e cor das paixões
se esparramando, líquida,
na esclerose de minhas veias,
minhas veias velhas.
Veneno e garapa,
a mó, o mel, o mal,
a morte feito gosto
invade meu sonho,
me habita o pesadelo
num aviso de sol morno:
o passo lerdo,
o pinto casto,
o cuco morto.
E dá sinais de olho posto:
a vida breve,
a arte curta,
o gole brusco,
a cinza fria,
um dó de peito
e o pó sem fundo,
ao qual haveremos
de tornar
- todos.
José Nêumanne Pinto
São Paulo, manhã de 18 de novembro de 2000
São Paulo, manhã de 18 de novembro de 2000
Nenhum comentário:
Postar um comentário