OSSOS DE SIBA
Não busques abrigo na sombra
desse bosque de verdura
qual o falcão que mergulha
como um raio na canícula.
desse bosque de verdura
qual o falcão que mergulha
como um raio na canícula.
É hora de deixar quieto
o caniçal sonolento
e de observar as formas
da vida que se esboroa
o caniçal sonolento
e de observar as formas
da vida que se esboroa
Caminhamos numa poeira
de madrepérola vibrante,
num ofuscamento pegajoso
que quase nos desfibra.
de madrepérola vibrante,
num ofuscamento pegajoso
que quase nos desfibra.
No entanto, tu o sentes, mesmo na onda árida
que lassidão nos traz neste instante de enfado
não é hora ainda de lançar num abismo
nossas vidas errantes.
que lassidão nos traz neste instante de enfado
não é hora ainda de lançar num abismo
nossas vidas errantes.
Como este claustro de rochas
que parece desfiar-se
em teias de nuvens;
assim nossas almas ressequidas
que parece desfiar-se
em teias de nuvens;
assim nossas almas ressequidas
onde a ilusão mantém aceso
um fogo mais de cinzas
se entregam à serenidade
de uma certeza: da luz.
um fogo mais de cinzas
se entregam à serenidade
de uma certeza: da luz.
Repenso o teu sorriso e é para mim como uma água límpida
retida por acaso entre as pedras de um rio,
exíguo espelho onde contemplas uma hera e seus corimbos;
e tudo sob o abraço de um branco céu tranquilo.
retida por acaso entre as pedras de um rio,
exíguo espelho onde contemplas uma hera e seus corimbos;
e tudo sob o abraço de um branco céu tranquilo.
Esta é a minha lembrança; não sei dizer, faz tanto tempo,
se de teu rosto surge livre uma alma ingênua,
ou se em verdade és dos errantes que o mal do mundo exaure
e o sofrimento carregam como um talismã.
se de teu rosto surge livre uma alma ingênua,
ou se em verdade és dos errantes que o mal do mundo exaure
e o sofrimento carregam como um talismã.
Mas posso dizer-te isto, que teu rosto recordado
afoga a mágoa inconstante numa onda de calma,
e que tua figura se insinua em minha memória nevoenta
imaculada como a copa de uma jovem palmeira...
afoga a mágoa inconstante numa onda de calma,
e que tua figura se insinua em minha memória nevoenta
imaculada como a copa de uma jovem palmeira...
Eugênio Montale
Trad.: Geraldo H. Cavalcanti
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