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sexta-feira, 4 de dezembro de 2015






















Às cinco da tarde 
 
Entre o touro e a areia
Dormem injustos
O sono dos justos.


Entre o touro e a platéia
Correm os pobres
Os riscos dos podres.

Entre o toureiro e a praça
Firmam um pacto
Os patos e os tontos.

Entre o toureiro e a areia
Tocam os sinos
O dobre dos santos.

Entre o touro e a praça
Dançam os sãos
A dança dos doidos.

Entre o toureiro e a platéia
Ungem-se antigos
Com o óleo das plantas.

Entre o toureiro e a areia
Pecam os moços
Pecados primevos.

Entre a capa e a espada
Conspiram possessos
Na treva do paço.

Entre o touro e o toureiro
Aspiram mordaças
Os padres no fosso.

Entre a capa e o cachaço
Murmuram desídeas
As pedras no poço.

Entre a espada e o cachaço
Rumina o touro
Seu curso de cão.

Entre a capa e a areia
Habita o toureiro
A casual solidão.

Entre a espada e a areia
Move o toureiro
Sua gana de pão.

Entre a capa e a platéia
Mata o toureiro
Sua fome de irmão.

Entre a praça e o touro
Morre a fome
Letal da ilusão.

Entre a praça e o toureiro
Vive a massa
Seu dia de pão.

Entre a praça e a areia
Evapora-se a água
Cheirando a sabão.

Entre a espada e a platéia
Um anjo caído
Brinda a devastação.

Entre a tarde e o touro, 
A noite caída 
Desata a paixão.


José Nêumanne Pinto
Natal, madrugada de 6 de janeiro de 2000.

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