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domingo, 6 de dezembro de 2015















XIII (Trilce)

Penso em teu sexo.
Reduzido o coração, penso em teu sexo
diante do raiar maduro do dia.
Digito o botão da felicidade, está preparado.
E desaparece o sentimento antigo
degenerando com prudência.
Penso em teu sexo, o sulco mais fecundo
e harmonioso que o ventre da Sombra,
embora a Morte possa conceber e gerar
o próprio Deus.
Oh Consciência
penso, sim, no animal livre
que copula onde quer, onde pode.
Oh , escândalo de mel dos crepúsculos
oh estrondo mudo
odumodnortse!

XXIII (Trilce)

Moinho candente dos biscoitos,
pura gema infantil e inumerável, mãe.
Oh os quatro remoinhos assombrosamente
por mondar, mãe: os infelizes.
As duas irmãs, Miguel que morreu
e eu arrastando
uma trança por cada letra do alfabeto.
Repartias na sala de cima
de manhã e a tarde, trabalho em dobro,
as hóstias soberbas do tempo
para que não sobrassem
as cascas dos relógios parados à meia-noite
em ponto.
Mãe, e agora? Em qual alvéolo
ficaria, em que rebento capilar,
certa migalha que sufoca a garganta
e não quer passar. Hoje, até
os ossos puros se transformam em farinha
que não será amassada
a terna doceira do amor!
Até a sombra crua e o grande molar
cuja gengiva lateja na covinha láctea
e inadvertido lavra e fervilha, observaste tantas vezes
as mãos cerradas dos recém nascidos.
A terra há de ouvir no teu silêncio
como nos exigem
o aluguel do mundo onde nos abandonaste
e o valor daquele pão interminável.
E cobraram-nos, embora fôssemos
ainda jovens, como havias de perceber,
não poderíamos arrebatar nada.
Quando foi que nos deste algo,
Diz, Mãe?

César Vallejo
(Trad. Jorge Henrique Bastos)

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