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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016
















E-DUPLO ERRO, SEDENTO

O erro compreende a sua figura
no centro novo e na esfera nova.
Duplo erro, sedento
movem-se os números na parede
da recordação exata e as boas-vindas.
Risco novamente aquelas letras
do convite com que amanheciam
as nuvens novas e a dulcificada
roda da tortura.
Onde se alojaram os mistérios,
as noites gêmeas e as coleções
de ídolos perenes?
A roda da poderosa nuvem imperial
o parafuso já não golpeia
as costas densas.
O parafuso que rompe o mar em dois:
os poderosos deuses abolidos
e o presságio que toca e persegue.
Gira a nuvem sob o sonho
e ali investe contra novos reinos
da pronunciada melodia.
Depois do cordeiro recém-nascido
sem perguntas na apaziguada prata,
os impérios do carvão, os nebulosos
paraísos sem proporção e justiça.
Aqueles que esquecem que a elegância,
veado alimentado de orvalho ou polpa de neve
cortesã, é o ser iminente que penetra
na nuvem central, o corpo da amêndoa:
a soberania celestial do fogo em evasão.
Fugia da terra grávida,
sedento Marco Polo entre carbúnculos,
estabelecendo os limites do sonho vago.
Acreditava que encontraria entre as rochas douradas
o peixe ainda sonâmbulo e separado
- única espécie de um metal vivo -
da noite e a sua sombra dançante.
Ali nas flautas a maldição nascente
e a nova cidade do corpo em fúria,
as pontes sombrias onde animais de canela
destroem na noite as coleções de porcelana.
Aberta ali, no instante em que a flor
assimila e se une ao inseto,
grandes pirâmides de orvalho
o golpe que engendra o cravo.
Ecos desabam, rumoroso presságio,
recua a extensa coluna de um fogo trêmulo
incha em ti, soluça o murmúrio,
invoca a ternura dos véus da água.
E as ninfas entre água e escuridão
transbordam de graça e som, os seus mantos,
os cabelos eternos diante do espelho, dizem:
define-me, não é nos meus passos, é na estátua
onde o tempo me devora e na areia
que cai das mãos que está o tempo predileto,
o único tempo criador sem o seu par e não o flanco
sangrando até o crepúsculo, e à nossa frente:
a estátua desconexa e um só centro .

A cavalaria provoca um remoinho
e se inclina à vista das águas não tocadas
a lua o inseto, e o cavaleiro.
O que declina à deriva até o centro.
O nu se nutre dos seus vestígios.
A lua, sonho duplo da lua vagarosa,
desce tocando as folhas diante dos amantes.
As folhas pintadas pelos címbalos do exílio
fabricam a areia e deslocam a chuva!

José Lezama Lima
Trad.: Jorge Henrique Bastos

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